quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O exterminador de gordura existe?

               De tempos em tempos surgem um método, uma substância, enfim, algo que poderíamos chamar até de "milagroso" que prometem deixar você sequinha, em forma, sem nenhum esforço... A bola da vez é um suplemento chamado Lcarnitina. Ele já é um velho conhecido de fisiculturistas e de freqüentadores de academias, que se baseiam na crença de que a substância é capaz de facilitar a redução de gordura corporal em pessoas que aliam sua ingestão à prática regular de exercícios. Agora, contudo, atravessou os limites do universo da malhação para virar o sonho de consumo de quem pensa perder peso num passe de mágica.
               Para que o sonho não acabe em pesadelo, é bom entender a questão: a eficiência da L-carnitina já foi questionada por pesquisas realizadas no Departamento de Histologia e Embriologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP).
              "Verificamos que a ingestão de carnitina associada ao treinamento físico não promoveu redução adicional de gordura corporal em relação ao treinamento físico isolado. Portanto, o efeito do emagrecimento deve ser atribuído ao exercício e não à suplementação. Esse trabalho foi publicado no Annals of Nutrition & Metabolism, volume 48, em 2004", diz o professor Marcelo Saldanha Aoki, pesquisador e docente do curso de Ciências da Atividade Física da Universidade de São Paulo, especialista em suplementação nutricional.

O que é e para que serve

              "Tempos atrás a L-carnitina era definida como um aminoácido, entretanto, atualmente é considerada 'vitaminlike', pois apresenta estrutura química semelhante à das vitaminas do complexo B. Porém, por ser sintetizada pelo organismo (fígado, rins e cérebro), foi retirada da classe de vitaminas", explica a nutricionista Alessandra Sarmento, da RG Nutri Consultoria Nutricional, de São Paulo. "Não se trata também de uma enzima, mas auxilia no funcionamento de enzimas relacionadas ao metabolismo das gorduras", completa o professor da USP. 
          
              Ela pode ser produzida pelo corpo em pequena quantidade, menor do que as necessidades diárias e, assim, é preciso complementar a ingestão por meio da alimentação. "A carnitina é encontrada predominantemente em carnes e produtos animais. O corpo humano contém em média 20 g a 25 g de carnitina, distribuídos no músculo esquelético e o restante no músculo cardíaco, rins, testículos e cérebro", fala a nutricionista.
              Essa substância, na verdade, é composta por aminoácidos, que teriam a função de transportar a gordura livre para dentro da célula muscular (mitocôndria - a usina metabólica da célula), transformando essa gordura em energia. "O processo é chamado de oxidação lipídica ou quebra de gordura", diz Alessandra Sarmento.

Por que virou mania


              Na década de 1960, pesquisadores perceberam que a ausência de carnitina no músculo acarretava um acúmulo de gordura. Segundo o professor Saldanha, por isso, a suplementação alimentar à base de carnitina ganhou a fama que possui hoje nas academias.
              Diz o ditado popular: "Se pouco é bom, mais é melhor!" E foi esse tipo de pensamento que impulsionou o consumo por parte de pessoas engajadas em exercícios. Porém, de acordo com os especialistas, esta hipótese NÃO se aplica à carnitina. Se o organismo apresenta uma deficiência da substância - o que não é comum -, a queima de gordura pode ficar prejudicada. Porém, o consumo elevado (via suplementação) também não garante que a queima de gordura aumente, nem mesmo durante as atividades físicas.
"A maioria das pesquisas demonstra que a L-carnitina não é capaz de promover emagrecimento"
Marcelo Saldanha Aoki, especialista em suplementação nutricional 

Entenda os testes em laboratório

               Durante seis semanas foram feitas experiências com ratos e ficou constatado que, após treinamento físico, a redução da gordura corporal entre as cobaias que foram suplementadas com carnitina era semelhante à observada nas que receberam somente ração. A equipe do professor Marcelo Saldanha Aoki, da USP, dividiu os animais em dois grupos. Um deles foi submetido a exercícios de baixa intensidade e longa duração. Os animais do outro grupo permaneceram sedentários.
              Em ambos os grupos houve três subdivisões, desta vez entre os ratos que não receberam suplementação (controle); os que ingeriram carnitina por um dia; e os que ingeriram por duas semanas.
"Os sedentários, mesmo os suplementados com carnitina, não apresentaram perda de gordura - como já era esperado. Todas as cobaias que foram submetidas à atividade física, tanto as que tomaram carnitina como as que não tomaram, apresentaram a mesma taxa de redução de gordura corporal", explica o professor.
               "Concluímos então que o fator preponderante para a redução de gordura não é a ingestão de carnitina, mas sim a prática de exercícios." Portanto, o negócio é suar a camisa!
 
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